A percepção é tudo?

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a realidade e a nossa percepção da realidade
A realidade não é a nossa percepção da realidade. 

Ao contrário do que muitas vezes possamos pensar, a internet não é um lugar de memória, porque os sites não são imutáveis, nem eternos. Na realidade basta, não renovar o domínio, para o site desaparecer da internet, restando apenas, na melhor das hipóteses, algumas páginas no archive.org - o arquivo de páginas da internet, para memória futura.

Tal como os perfumes, também os sites deixam algum rastro, mas quando uma empresa encerra, ou o seu domínio expira, a sua pegada vai sendo progressivamente atenuada na web, por biliões de novos dados que estão constantemente a ser introduzidos.

Porque na Internet, a vitalidade de um site também conta e, quando nada de novo aparece num site, mesmo que ele continue online, o algoritmo do Google vai fazer com que ele se vá  "afundando" na miríade de novos conteúdos, que vão surgindo todos os dias, na internet.

Assim, internet não é um lugar de memória porque os sites, tal como os perfumes, não são eternos.

A memória deles talvez... mas também se desvanece no turbilhão da realidade, olfactiva ou virtual.

Uma empresa encerra, o domínio expira e a memória perde-se...

a Internet não é um lugar de memória
A Internet não é um espaço de memória

O rastro do site perde-se, quando uma empresa encerra e o seu domínio expira, ou quando uma pessoa morre e ninguém se lembra de renovar o seu domínio para perpetuar a memória.

Perdem-se por isso muitos conteúdos válidos, na internet, de pessoas que fizeram sites sobre assuntos muito específicos, em que se form especializando.

Felizmente, muitos optam por domínios gratuitos de Blogs, que não precisam de ser renovados e por isso sobrevivem, muitas vezes aos seus criadores, tal como as contas de facebook e outras ...

A legislação, anda sempre atrasada, em relação à realidade - nem poderia ser de outra forma - e por isso, nestes domínios existe ainda um grande vazio legal:

  • Os sites podem ser herdados?
  • Uma conta de Facebook pode ser apagada a pedido de um familiar ou herdeiro?
  • Alguém se lembrou até hoje de deixar em testamento, instruções para que seja apagada (ou preservada) a sua memória?
  • É ético que um herdeiro decida eliminar ou dar outro destino aos conteúdos criados por alguém, durante anos, com muita dedicação?
  • Porque podemos continuar a interagir, e fazer comentários, na conta de Facebook, de alguém que já não existe, nem pode responder, afectando com isso a sua memória?

Esta e muitas outras questões, me ocorrem, quando visito um blog, interessantíssimo, cujo autor já não actualiza há cerca de 3 anos.

E que dizer, quando o Facebook, nos envia uma colagem a recordar que há um ano, estávamos naquele local com o nosso familiar, e amigo do Facebook , que já não está neste mundo...

São muitas as questões que a memória na internet nos levanta, e eu não temos resposta para elas...

Confesso que nunca perdi tempo a pesquisar sobre este assunto. Limito-me a questionar...

A versão online do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

a Internet não é um lugar de memória
A versão web mais aproximada do Arquivo Nacional da Torre do Tombo

Ainda não existe uma versão online do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

O mais aproximado que eu conheço é o Archive.org, um arquivo universal, onde ainda vai sendo preservada a memória dos sites que encerram.

Enquanto existir o archive.org, ainda vai sendo possível aceder a algumas páginas de sites que já não existem, e ainda vai sendo preservada a sua memória.

No mundo digital, da realidade visual, pela sua própria essência virtual, nada permanece , tudo é permanentemente efémero, até a percepção que temos  da realidade virtual é efémera.

Aliás, "realidade virtual" é um termo muito apropriado, para descrever um real que é imaterial.

Tal como muitas da nossa memória, que por regra se vai apagando no nosso cérebro, progressiva e paulatinamente, mas que também pode ocasionalmente desaparecer de súbito.

A Beleza e Dor da Fugacidade

a fugacidade da Internet
A beleza e a dor da fugacidade da Internet

Tendo trabalhado durante mais de uma década na criação de sites para clientes, ajudei a "matar" muitos sites e assisti em muitos "partos".  

Sim, porque os sites acabam por ser uma entidade com vida própria, com personalidade e, tal como as pessoas, vão evoluindo ao longo dos anos e sofrendo transformações, desde a sua infância, até à idade adulta. Eventualmente, muitos sites atingem a degenerescência e morrem.

A única diferença é que o tempo de vida médio de um site é muito mais curto, do que o tempo de vida humana. Conheço empresas que em 10 anos tiverem várias vidas virtuais.

Algumas vidas virtuais multiplicaram-se, outras reduziram-se, mas poucas ficaram imutáveis, no tempo,  durante vários anos, porque nos dias de hoje um site é um activo demasiado importante para uma empresa, para que ela se possa dar ao luxo de não o alimentar com novos conteúdos e actualizações.

Fico sempre triste quando vejo uma empresa, recomeçar do zero e eliminar as suas memórias, apenas para ter um espaço virtual de acordo com a última moda virtual... faz-me lembrar aquelas pastelarias centenárias que apagam as suas memórias com paredes de pladur

Um site, e os seus conteúdos podem ser apagados, alterados, repostos ou até privatizados, num piscar de olhos.

Toda esta fugacidade constitui também a essência da Internet.

E no entanto existe alguma beleza, nesta imaterialidade!

Ainda acredita que a Internet é de Graça?

Ainda acredita que a Internet é de graça?
Você acredita que a internet é livre, grátis, simples e dá milhões?

Você acredita que a internet é livre, grátis, simples e dá milhões?

Peço desculpa, mas tenho que lhe dizer: - Você é um analfabeto digital.

Você consultou um amigo, que lhe indicou algum  auto-proclamado especialista, que lhe garantiu que basta fazer um site, para a sua empresa, e tem o negócio garantido.

E claro que você deseja que assim seja, por isso quer acreditar...

Todos temos sempre alguns amigos que insistem que ter um site é simples, fácil, e dá milhões, certo? Ou, pelo menos, negócio garantido.

Porque é que então esses seus amigos não estão milionários e ocupados com tantas solicitações, em vez de estarem disponíveis para lhe fazer um site (quase) de graça?

Porque é que não aproveitaram, para tirar proveito da fórmula mágica?

Porque, ou não são sérios, ou não têm competência.

Se não forem sérios, o negócio deles é vender-lhe a realidade cor-de-rosa e desaparecer do mapa.
Se forem incompetentes, o negócio deles é mesmo esse, mas são como aqueles contabilistas amadores que não acompanham a legislação e nos deixam pendurados e com dívidas ao fisco.

Conhece aquele velho ditado, de que advogados e contabilistas baratos, ficam muito caros?
A versão digital é, de que programadores baratos, ficam muito caros!

Se não tem dinheiro, ou conhecimento, para contratar bons programadores, fique-se pelas redes sociais, porque que lhe fica mais barato e é mais eficaz, do que um site ou uma loja mal feitos.

Longe vão os tempos em que a Internet era uma jovem ingénua, livre e cheia de graça.

A internet cresceu, amadureceu e já não é nem ingénua, nem livre, nem gratuita!

Na realidade, se quisermos ser rigorosos, nunca foi...

A internet sempre se alimentou de Si!

Já deve ter ouvido alguém dizer, que se é de graça então o produto é você!

Os seus dados, o seu tempo, as suas fotos, a sua informação, o seu donativo, etc ...

E é mesmo assim, sem excepção...

Na Internet, até mesmo quando não é de graça, o produto é muitas vezes, você!

Sem você, a Internet não funciona...

E no entanto, você cada vez paga mais a internet que usa "de Graça".

A própria Google, que revolucionou a Internet, já não é aquela empresa de jovens audazes e solidários que só tinham como objectivo fazer chegar os melhores conteúdos a toda a gente, criando o melhor algoritmo, para um motor de busca que indexasse todos os conteúdos disponíveis na web.

A Google realmente fez uma revolução nas nossas vidas ao liberalizar o acesso à informação, para " tornar a informação do mundo universalmente acessível e útil a todos", com o melhor motor de pesquisa do mundo - para quando uma nova categoria, nos prémios Nobel?

A Gooogle já não é a empresa ingénua do inicio
A Google realmente fez uma revolução nas nossas vidas ao liberalizar o acesso à informação.

Mas Sergey Brin e Larry Page, os fundadores da Google, são agora quarentões e pais de família, cientes do poder que detêm nas mãos. Estão rodeados de uma miríade de excelentes advogados e especialistas de gestão e marketing. Foram obrigados a entrar no sistema e comportam-se agora como qualquer multinacional, que tem uma visão global e quer negociar acordos em países como a China ou a Rússia. 

Além disso a Google cresceu tanto, tanto, que deu origem a um conglomerado empresarial - Alphab Inc. - que abrange agora áreas de interesse e actividades tão diversas como a biotecnologia, a investigação em data mining, o capital de risco, a automatização residencial, ou as viaturas autónomas. Além disso a Google, tem agora uma gestão mais pragmática e concorrentes inesperados, como o Facebook ou a Amazon, que lhe exigem uma estratégia mais focalizada na sustentabilidade financeira da empresa, do que no humanismo, que presidia a todas as decisões dos primeiros tempos. Um empresa mais focalizada nos negócios e na política, do que a Google dos fundadores.

Bem vindo ao novo mundo da Internet Madura!

a internet madura
Bem vindo ao novo mundo da Internet Madura

Aquela que já não vai mudar o mundo, mas vai continuar a complicá-lo e a sofisticá-lo até ao limite, de lhe fazer sentir a sua própria Obsolescência - ou pior a da sua empresa - perante as máquinas e a inteligência artificial.

Catastrófico? Nem por isso... 

Desafiante? Sem dúvida!

Para evoluir são necessários desafios.

Sem desafios, não saímos nunca da nossa zona de conforto.

Quando nos limitamos a repetir, sempre a mesma fórmula, mesmo que seja uma fórmula de sucesso, não estamos a evoluir, nem temos condições para criar nada de novo e inovador.

A Humanidade evoluiu sempre, a partir do caos ou do desconforto, numa dicotomia entre:

  • A Ordem e o Caos.
  • A Tradição e o Progresso.

Acredito que é neste caldeirão de desconforto, perigo e oportunidade, que estão os catalizadores do progresso.

Não podemos, por causa dos perigos, matar o progresso.

Não podemos, por causa dos perigos, matar o progresso, mas também não podemos subestimar os perigos. Isto é válido não só para a Internet, mas também para a engenharia financeira, para a engenharia genética ou para a robótica. 

Todas representam o progresso da Humanidade, mas também  alguns perigos, que não devem ser nem hiperbolizados, nem substimados.

  • A Internet, criou a primeira rede global, mas também criou um big-brother virtual
  • A engenharia financeira, criou oportunidades de crédito e de investimento para o cidadão comum e para as empresas, mas também criou negócios financeiros  perigossos que provocam bolhas e fraudes económicas, que pela sua dimensão afectam os estados e cidadões, por vezes sem penalizar os responsáveis.
  • A engenharia genética, aplicada à medicina, está em vias de revolucionar a forma como somos tratados, mas também pode criar  problemas de eugenia e falta de privacidade dos cidadãos que podem ver o seu código genético exposto, por exemplo, a empregadores e a seguradoras.
  • A bioengenharia aplicada à agricultura, criou plantas mais produtivas e resistentes a doenças, mas também criou empresas que destroem ou ameaçam a biodiversidade e fazem lobby para patentear a Natureza, colocando em causa direitos que damos por adquiridos, como o de guardar uma semente para voltar a cultivar a planta. 

A melhor forma de lidar com o progresso, em todas estas áreas, não é negá-lo, nem recusá-lo, é assumi-lo e moldá-lo de acordo com as nossas aspirações.

Para que isso seja uma realidade é necessário, capacitar o maior número possível de cidadãos, com os conhecimentos e as ferramentas de informação, necessários para entenderem os novos desafios que se colocam.

Para a Agricultura o desfio é imenso e deveras interessante!

Seremos capazes de conciliar os progressos da robótica com a manutençãop dos postos de trabalho?

Iremos conseguir alocar os ganhos de rentabilidade e de produtividade, da mecanização, à investigação e desenvolvimento de novas formas de agricultura, e de vida, mais sustentáveis?

Será possível, compensar a perda de património genético, decorrente da transformação das explorações agrícolas em grandes explorações de monoculturas, ou oligoculturas, com processos agrícolas extremamente mecanizados, e altamente selectivos das características da espécies produzidas, em função da sua rentabilidade no mercado - incompatíveis com a preservação da biodiversidade das espécies?

Será possivel combater a decadência económica das pequenas e médias explorações agrícolas, que asseguram a biodiversiadde das espécies, nomeadamente a produção de uma maior diversidade de alimentos - alimentos menos rentáveis, mas mais saborosos e adaptados ao clima - e que contribuem para preservar a diversidade genética, que garante a sobrevivência dessas espécies e de todas as outras que delas dependem ao longo da cadeia alimentar?

Será possível reverter a tendência para o desperdício alimentar?

Será possível reverter a homogeneização alimentar?

Será possível reverter a degradação dos solos,  e da água?

Será possível reverter o desperdício de matérias-primas que fazem falta, para a regeneração do solo?

A Internet, ao permitir a informação, a sensibilização e a interação entre os produtores e os consumidores, poderá ser a resposta?
 

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Mariana Barbosa

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