O que é tradicional é bom! Mas, nem sempre.

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Muito do chamado "comércio tradicional", quer seja por falta de imaginação, quer seja por desespero de causa e por inabilidade para concorrer com os hipermercados, apelida tudo de "tradicional".

O que é tradicional é bom! Mas, nem sempre.
O que é tradicional é bom! Mas, nem sempre.

Temos a mania de que tudo o que é tradicional é bom.

E não é só uma mania nacional, é uma mania internacional!

Tudo quanto é comércio de rua, sobretudo nos centros urbanos, das vilas e cidades, se apropria do selo tradicional.

Muito do chamado "comércio tradicional", quer seja por falta de imaginação, quer seja por desespero de causa ou por inabilidade para concorrer com hipermercados, apelida tudo de tradicional.

Quem nunca entrou numa loja, repleta de referências ao conceito de tradicional, desde os produtos até ao próprio estabelecimento? 

Por outro lado, as lojas acabadinhas de abrir, nos centros urbanos, desenhadas especificamente para vender produtos massificados aos turistas, recorrem também ao termo “traditional” como forma de atrair o olhar dos turistas.

As próprias marcas, recorrem ao apelo do tradicional, por vezes de forma pouco convincente…

De tal forma se usa e abusa da palavra “tradicional”, que eu me questiono, como é que ainda pode ter credibilidade.

Mas tem, como se pode perceber pela adesão dos turistas a tudo o que se vende como tradicional!

Por mais anti-tradicional que seja…

Deixemos o terreno da propaganda e avancemos para o conceito em si mesmo…

Afinal, o que é que significa o conceito de tradicional?

O que é que as pessoas, em geral, percepcionam quando vêm o "selo tradicional” num produto, evento ou local?
Praticamente para tudo o que é comercializados encontramos uma versão tradicional.
Existe a padaria tradicional, o método de fabrico tradicional, o bolo tradicional, o traje tradicional, o cortejo tradicional, a festa tradicional, a receita tradicional, a família tradicional, a loja tradicional, a pastelaria tradicional, doçaria tradicional, etc…
E existem ainda as tradições.

No meio de tanta tradição, como definir afinal o que é a Tradição? O que é Tradicional?

Como distinguir as verdadeiras tradições e o que é verdadeiramente tradicional, das apropriações que o marketing faz do tradicional?

E por fim, porque é que achamos que o que é tradicional é bom?

O que é Tradicional é bom!

Nem imaginam como me irrita a percepção de que tudo o que é tradicional é bom!
Podemos confiar na qualidade de qualquer produto, local ou evento, só porque tem um rótulo qualquer a dizer: "fórmula tradicional”, "produto tradicional”, "método tradicional”?

Mas afinal o que é a Tradição?

Existem produtos tradicionais maus.
Existem produtos tradicionais bons.
E assim a assim…

As touradas de morte são eventos tradicionais.
A excisão feminina é prática cultural tradicional.
A luta de cães é uma prática tradicional.
Até o apedrejamento, em algumas partes do mundo, é uma prática cultural tradicional.

Existem tradições e produtos tradicionais que são inegavelmente maus, existem tradições e produtos tradicionais muito bons, e existem ainda os bons ou assim a assim…

pão tradicional cozido em forno de lenha
Pão tradicional cozido em forno de lenha. E a qualidade da farinha?   

Assim como há tradições más e tradições boas, também há produtos tradicionais maus e bons, restaurantes tradicionais maus e bons, comidas tradicionais más e boas.

Enfim, tradicional não é, per si, sinónimo de qualidade.

Tradicional quer apenas dizer que é um acto ou produto baseado na tradição, ou seja, que se repete há bastante tempo, num determinado local e contexto, segundo os mesmos padrões.

Nem tudo o que se repete ao longo de gerações é necessariamente bom, assim como, nem tudo o que é novo é mau.

A explosão de criatividade, no artesanato português, após décadas de estagnação, em que todos os artesãos se limitavem a repetir sempre as mesmas peças, sem  inovar - apenas para manter a tradição? - é na minha opinião, um excelente exemplo de que seguir a tradição, nem sempre é o melhor caminho!

O Galo de Barcelos, por exemplo, rejuvenesceu milagrosamente, quando se metamorfoseou nas mãos dos novos artesãos e designers, à boleia do boom do turismo, em Portugal.

O Galo de Barcelos já não é o que era? Pois não, e ainda bem!

Mas, continua a vender-se o galo tradicional, para quem faz questão de manter a tradição - só porque sim!

Conciliar Modernidade, Qualidade e Tradição.

O top da irracionalidade, no entanto, são na minha opinião os restaurantes.

Não há nada de mais anti-natural do que Restaurantes de "comida dita tradicional", onde a comida é confecionada em microondas e entregue em travessas de alumínio, à velocidade moderna. Mas será que podemos esperar, melhor, mediante o preço que estamos disponíveis para pagar?

Como este vídeo sobre os restaurantes "Tradicionais" de Paris demonstra, é muito difícil conciliar a Modernidade  - que exige preço, rapidez e comodidade - com a Tradição, de forma salutar para todos.

Por vezes, é mesmo melhor abdicar do tradicional e, enfim, vejam o vídeo... que nos levanta uma outra questão, ainda mais importante:

É possível conciliar a restauração caseira, com rapidez, qualidade e o baixo preço?

Não!

Como este vídeo demonstra, não é economicamente viável para um restaurante conciliar todos estes requesitos:

  • qualidade
  • rapidez
  • preço  

A rapidez e o preço que os clientes esperam de um restaurante, simplesmente não permite fazê-lo sem um custo muito elevado de mão-de-obra, quer seja para confecionar os pratos, quer seja para a obtenção dos produtos frescos.

E  Benvindo aos restaurantes tradicionais de Paris!

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Mariana Barbosa

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