Azeite - A Corrida ao Ouro Verde

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Azeite - A Corrida ao Ouro Verde | Reforma Agrária

Apelidado, por vezes, de "ouro verde", o azeite é de facto uma preciosidade natural e é, seguramente, fonte de riqueza e bem-estar daqueles que dele podem usufruir.

A Produção de Azeite, em sistema intensivo,  é uma das Atividades Agrícolas mais Rentáveis do Portugal Rural, mas a que preço? 

Mas tal como a "febre do ouro", também a "febre do azeite", eleva a ambição do homem, levando à destruição de olivais centenários, por vezes milenares, para os substituir por olivais intensivos, em sistemas de monocultura, em sebe, que exigem o consumo de água - em regiões tradicionalmente pobres neste recurso, onde a coexiste com o olival tradicional.

Ora, o olival tradicional, produz-se em regime de sequeiro, e sem recurso a agroquímicos de síntese. Portanto, é uma cultura muito mais sustentável, e adaptada a estas regiões, porque não há regas, nem tratamentos de fertilização dos solos e das árvores, para aumentar a produtividade das plantas - que poluem, matam vida e destroem a biodiversidade destas regiões. 

Esta febre do ouro verde, reveste-se até, de certa forma, de um carácter parasitário, se tivermos em consideração que os olivais intensivos, dependem da água, fornecida pelas infraestruturas de regadio, construídas e mantidas com recurso a fundos públicos.

Estruturas essas, que até são úteis, se estiverem orientadas para o benefício das populações locais, e para resolver problemas crónicos de falta de água, ao serviço da agricultura local e sustentável. 

Mas quando o regadio, é implementado para, estar ao serviço de empresas multinacionais e fundos de investimento, que estão mais preocupados com a sua sustentabilidade económica, do que com a sustentabilidade dos locais onde atuam, são, não só inúteis, como até prejudiciais para os interesses das populações locais.

Quando o objetivo de principal de uma empresa é o lucro, e apenas o lucro, esta não olha a fins para atingir os meios, e isto, na agricultura traduz-se em solos degradados, património destruído, contaminação da água e do ar.

E, quando os terrenos se degradam, e deixam de ser produtivos, estas empresas têm uma grande facilidade em movimentar-se para outras áreas do globo, deixando os problemas para as populações locais resolverem.

É Urgente Incorporar o Princípio do Poluidor Pagador

Mas se, é expectável, e até está correto, do ponto de vista financeiro, que as empresas e fundos de investimento agrícolas multinacionais, necessariamente, coloquem a sua sustentabilidade económica, acima de qualquer outro tipo de sustentabilidade, nomedamente a sustentabilidade ambiental e social. 

Também está correcto, e é expectável, que as entidades responsáveis pela supervisão e licenciamento, deste tipo de actividades - quer seja a nível local, quer seja a nível nacional, ou até supranacional - exigam que estas empresas incorporem na sua actuação o princípio do poluidor pagador. 

Quando todos os cidadãos, contribuem com os seus impostos, para um mega-investimento público, como o do Alqueva, têm que ter garantias, do governo, que este investimento serve, acima de tudo, os seus interesses!

Ou seja, para melhorar a qualidade de vida desses mesmos cidadãos, a nível local, no presente, sem afectar as perspectivas de futuro.

Logo, não basta acenar com a criação de postos de trabalho, é necessário que estes sejam sustentáveis e não colidam com outros postos de trabalho locais.

Logo, não basta acenar com o contributo para o PIB, é necessário que a riqueza criada, não provoque a delapidação de recursos a montante.

Qualquer investimento público, de grande ou pequena envergadura, tem que ter como meta principal a sustentabilidade, e não a desvalorização e o empobrecimento das populações e culturas locais.

As populações locais, têm outro tipo de ligação, quer com a agricultura local, quer com o meio ambiente em que se inserem, e por isso, é sobre elas que recaem todos os encargos, de reparar os estragos sociais e ambientais, decorrentes deste tipo de agricultura.

Custos versus Benefícios, do Olival Intensivo

Se fizermos bem as contas,

Os olivais intensivos e super-intensivos, são muitas vezes investimentos realizados com recurso a financiamento público Nacional ou da União Europeia.

Entre os recursos públicos que lhes são alocados/atribuídos:

  • Infraestruturas de apoio ao regadio, como o Albufeira do Alqueva 
  • Fundos Nacionais e Europeus de apoio à Agricultura
  • Sobrecarga financeira do estado e autarquias, por sobrelotação das estruturas sociais e de saúde locais - com os problemas logísticos, de saúde e sociais, decorrentes da sobrecarga das infraestruturas locais, com trabalhadores temporários, que chegam a ser mais numerosos do que os habitantes locais.
  • Legislação favorável à Importação de mão-de-obra barata ( há quem lhe chame "mão-de-obra escrava") para as explorações agrícolas, através de empresas de trabalho temporário, que servem de intermediárias, na contratação e colocação de "efetivos temporários", ao serviço dessas empresas, provocando uma clara distorção do mercado laboral, a nível local.
  • Custos sociais com o apoio a trabalhadores imigrantes deslocados - em Portugal são já centenas ou milhares de trabalhadores trazidos do outro lado do mundo, a ganharem "uma côdea de pão", apenas porque na terra de onde vêm ganhariam ainda pior. Vivem "amontoados" em apartamentos sobrelotados, ou em estruturas precárias, colocando problemas logísticos em aldeias onde chegam a ser mais numeros dos do que os próprios habitantes locais e distorcem os preços do mercado de habitação.
  • Alocação de recursos a medidas de combate ao aumento de redes de tráfico de trabalho escravo.

E o custo efectivo dos seus impactos locais e ambientais:

  • Descaracterização da paisagem.
  • Destruição de olivais tradicionais e dos habitats naturais de inúmeras espécies vegetais e animais que lhes estão associadas
  • Poluição da água, do ar e dos solos, com a utilização de agroquímicos, que este modo de produção intensivo e monocultural requere para ser mais produtivo.
  • Especulação imobiliária, que encarece os custos de habitação, quer para os imigrantes, quer para os habitantes locais.

Na base disto, está um mercado de distribuição agroalimentar oligárquico, que fomenta no consumidor uma atitude desinteressada e comodista.
Um consumidor que quer apenas, comprar azeite ao melhor preço e da forma mais cómoda possível!

Por isso, da próxima vez que comprar azeite, lembre-se que a sua atitude conta!
E compre, diretamente ao Produtor Agrícola Local, para poder rastrear a sua proveniência, em vez de se deixar seduzir pela atitude de consumo comodista, que está a destruir o nosso futuro neste planeta!

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Mariana Barbosa

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