Tele-Transporte: a maneira mais ecológica de viajar !

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Viajar é bom e faz bem!
Mas, estaremos nós, nesta ânsia sôfrega de viajar, a deixar escapar alguma coisa?

Tele-Transporte: a maneira mais ecológica de viajar!
Tele-Transporte: a maneira mais ecológica de viajar!

Viajar é bom!

Mas também implica um esforço ambiental acrescido.
Quando viaja, desperdiça mais recursos do que habitualmente, mas pode fazer um esforço para minorar o seu impacto.

O simples facto de fazer uma viagem de comboio, ou de avião, altera muito o impacto da sua pegada em viagem. Mas não é cómodo falar disto, porque na realidade todos ansiamos por viajar mais e explorar o mais possível…

Mas estaremos nós, nesta ânsia sôfrega de viajar, a deixar escapar alguma coisa?

Será que não estaremos a exagerar, na nossa fé em viagens ?

Não estaremos a sobrevalorizar as viagens, como catalisadores de conhecimento, da aprendizagem e de descoberta?

E não estaremos, por outro lado a desvalorizar, os catalisadores de conhecimento, aprendizagem e descoberta que nos circundam, nos locais onde nos movemos habitualmente?

  • Quantas vezes visitou a biblioteca pública da sua cidade este ano?
  • Quantos livros leu sem sair do lugar?
  • Quantas viagens virtuais, fez até à mente de outra pessoas através das suas biografias, de documentários ou entrevistas?
  • Quantas vezes se interrogou sobre o nome da sua Rua ou daquela Praça onde estaciona o carro todos os dias?
  • Quantas conversas entabulou com desconhecidos, na sua cidade?
  • O que sabe sobre as histórias de vida dos seus vizinhos?
  • O que sabe da senhora que todas as manhãs limpa o escritório da empresa onde trabalha?
  • Quantas vezes, este ano, deambulou aleatoriamente na sua rota de viagem casa-trabalho, para descobrir a sua cidade?

As viagens ao estrangeiro serão todas assim tão enriquecedoras?

O que há assim de tão diferente entre Londres, Paris ou Amesterdão
 Paris, Londres ou Amesterdão?

A cultura urbana de qualquer uma dessas cidades, por mais diferente que seja, nunca será muito surpreendente ou desafiante para alguém que viaja de outra cidade ocidental.
A mesma exposição que está em Londres pode na semana seguinte passar em Paris ou Amesterdão.

As pessoas, de qualquer uma dessas cidades, são na sua maior parte uma mescla, de diferentes origens e culturas, mas uniformizada pelos standards do estilo urbano.

As pessoas que compõem a paisagem urbana de qualquer uma dessas cidades, podem ser facilmente colocadas em qualquer outra cidade urbana, sem destoar no estilo de vestir, nas tatuagens, no estilo de sapatilhas, etc.

A gastronomia local, por mais distintiva que seja, nas grandes cidades não está acessível aos bolsos da maioria dos turistas, que acabam por optar por restaurantes onde a regra são as falsificações industrializadas da gastronomia típica local, aquecidas em microondas, muitas vezes por imigrantes, mal pagos, que trabalham nessas cozinhas.

Porque é que os centros urbanos são tão disputados pelos turistas e pelos adeptos das experiências de internacionalização.

Que tipos de intercâmbio cultural poderemos obter nestas experiências de internacionalização, para além da uniformização de comportamentos a nível global?

O que é que a uniformização desses locais, tem de enriquecedor para quem circula sucessivamente, por exemplo, entre Lisboa, Paris, Amesterdão e Londres?

Porque é que a maioria das pessoas prefere umas férias, em sucessivas filas indianas para visitar os pontos turísticos nessas cidades, em vez de viajar para destinos menos revisitados e bem mais desafiadores?

Porque é que, viajamos na maioria das vezes, para locais onde nos sentimos confortáveis, com pessoas cujos hábitos nos são familiares, e onde possamos optar por uma gastronomia algo diferente, mas no fundo igual:

  • a cerveja de marca diferente, mas sempre a cerveja.
  • o vinho de cada país, mas sempre o vinho
  • os cocktails decorados, na borda da piscina
  • a voltinha no tuk-tuc ou autocarro turístico
  • o café museu lá do sítio
  • a carne de vaca com batatas fritas, na versão local
  • o café em copo de papel com a universal palhinha de plástico
  • a eterna coca-cola com hambúrguer, na versão local

E se não houver estas alternativas, a maioria de nós, por regra, prefere o McDonalds, em vez das alternativas “esquisitas” que comem os locais.

Um bom exemplo disso são as tão emblemáticas, tripas à Moda do Porto, que quase desapareceram das ementas dos restaurantes, na Baixa do Porto, com o boom turístico da cidade. As Tripas à Moda do Porto, cederam o seu lugar à Francesinha, agora omnipresente na Baixa do Porto, com direito a filas de espera na rua – porque é um prato very tipical.

E no entanto,

A francesinha, não passa de uma versão, ainda mais gordurosa, da universal tosta mista ou croque monsieur. Ou seja, uma refeição fast-food que é bem menos desafiante para o palato dos turistas do que uma tripa de porco cozinhada.

O ser humano é muito resistente à mudança!

Algarve, Costa del Sol ou Côte d'Azur?
 Algarve, Costa del Sol ou Côte d'Azur?

Não admira por isso que mesmo quando viajamos para locais mais exóticos, longe dos centros urbanos, muitos de nós optemos pelos chamados hotéis all-inclusive, onde encontramos todas as comodidades a que estamos habituados, nas condições a que estão habituados, e por vezes até tenhamos direito a programas lazer, totalmente preenchidos com actividades programadas por operadores turísticos - que decidem por nós, o que visitar, quando visitar e como visitar.

Só varia mesmo, o detalhe colorido na decoração dos cocktails e a farda dos funcionários, para lembrar o exotismo do local.

E, no extremo, eu diria até que, é possível passar a vida inteira a viajar sem ganharmos nada com isso:

  • sem sair da nossa zona de conforto
  • sem nos desafiarmos
  • sem aprendermos nada

Eu diria até que, é mais enriquecedor passar uma semana de férias, sentado no sofá a ler, do que viajar sem sair da nossa zona de conforto.

Aprendemos mais, viajamos mais para fora da nossa zona de conforto e é mais desafiante.

Além disso, é mais sustentável… porque, por regra, em nossa casa desperdiçamos menos recursos:

  • Não cometemos sucessivos excessos alimentares.
  • Reciclamos mais e podemos aproveitar as sobras alimentares.
  • Sabemos, mais ou menos, a proveniência e qualidade dos alimentos que estamos a consumir.
  • Enchemos um copo com água em vez de comprar uma “amostra” de água engarrafa, quando temos sede.
  • As nossas refeições e sobremesas, não são todas embaladas em doses individuais enlatadas ou plastificadas.
  • Não infestamos a nossa habitação, com doses brutais de detergentes, ambientadores e insecticidas, para garantir uma limpeza e odor imaculados, em tempo record.
  • Não exigimos a nós próprios mudas de lençóis, roupões e toalhas lavadas, todos os dias.
  • Não usamos frasquinhos em miniatura para sabonetes e champôs
  • Não trocamos de móveis, por causa de um risco ou de uma leve deformação.
  • Somos mais cuidadosos com o lixo que produzimos e com o ruído fazemos para os vizinhos.

Quando viaja procura reduzir o seu impacto, agindo como se estivesse em casa, naquilo que realmente importa – a sua pegada ecológica?

Fugir dos pontos mais turísticos e interagir com os habitantes locais, é a melhor forma de enriquecer a sua experiência.

Nem tudo é inútil na busca de intercâmbio cultural, entre meios urbanos.

Se não há uma relevante vantagem cultural,  há no entanto uma relevante vantagem social, porque nestas tentativas de intercâmbio cultural, as pessoas percebem que têm muito em comum, para partilhar e essa identificação gera empatia e solidariedade entre pessoas. E são as pessoas que formam as nações.
O jovem de Paris, que pernoitou na casa de um casal em Amesterdão, e conheceu um jovem Londrino no restaurante, vai olhar para os nacionais desses países, com uma perspectiva mais familiar.

Além disso, apesar das semelhanças culturais entre todos os meios urbanos, e das semelhanças na oferta de produtos, programas e eventos existem sempre pessoas com projectos de vida, diferentes dos nossos e que podemos descobrir.

Pessoas interessantes, com perspectivas que nos podem enriquecer culturalmente, se estivermos abertos.
Pessoas que se cruzam connosco nos espaços e situações mais inusitados e improváveis.

Pessoas que podem passar por nós como espectros, como sombras ou como caixinhas de surpresas que só temos que abrir.

Na realidade, as viagens entre meios urbanos, só valem a pena pelas pessoas que podemos descobrir.

Mas, também existem pessoas para descobrir, na nossa cidade, no nosso trabalho, no metro, na nossa rua.

Pessoas que se cruzam connosco, todos os dias, e nem cumprimentamos, mas que já nos são familiares.

Pessoas que não conhecemos, mas poderíamos descobrir…

Sair da sua zona de conforto...

Lembre-se disto quando viajar, porque este sim é o verdadeiro desafio de Viajar! 

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Mariana Barbosa

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